- Estou com vergonha de voltar
pra casa da Nana. Sério. – Yuudai confessou quando ficou a sós com Kratos pela
primeira vez desde que foi transformado.
Era a noite do dia seguinte ao
de sua transformação. Kratos temia que houvessem outros dragões atrás dele (e
de toda a família), portanto a opção mais segura seria que ele e Yuudai não
continuassem a morar no apartamento e se mudassem o mais rápido possível para o
bosque.
- Vergonha porque? –
perguntou, enquanto ajudava Yuudai a esvaziar as gavetas e armários. Jogava em
cima da cama de casal todas as roupas que encontrava.
- Eu quebrei um monte de
coisa! Não ficamos lá nem 24 horas, e quebrei sem querer duas portas, um prato,
e alguns copos... Estou destruindo tudo que toco! – Yuudai falava com uma
expressão desesperada, o que na visão de Kratos tornava a situação cômica.
- Vou te dar a melhor dica
possível pra isso... Imagine que tudo ao seu redor é feito de um cristal fino.
Cada copo, cada maçaneta. Tudo de cristal. Aí você vai se acostumando a ser
mais delicado com as coisas, e com o tempo se acostuma com a sua força. –
sorriu. – Você não faz ideia do prejuízo que eu causei à eles nas minhas
primeiras semanas na casa da Nana... Eu quebrava muito mais coisas que você. Fiquei
meio longe das crianças por um bom tempo, com medo de machucá-las.
Continuaram a jogar as roupas
na cama, e logo as gavetas, prateleiras e cabides estavam vazios.
- Pega as malas que a gente
deixou na sala, vamos guardar logo... – foi interrompido por Yuudai, que o
derrubou na cama. – O que?!
- Consegui! – Yuudai ria. –
Não acredito!
Rindo também ao ver a
felicidade de Yuudai pelo simples fato de agora conseguir derrubá-lo, Kratos
resolveu aproveitar para provocá-lo.
- Eu estava distraído... Assim
é fácil demais.
- Antes você parecia uma
muralha, se me jogasse em cima de você eu acabaria me machucando. Mas agora as
coisas vão ser mais divertidas, não? – sorriu provocativo. Conseguiu imobilizar
Kratos ao segurar seus pulsos com força e imprensá-lo contra a cama com o
próprio peso.
Kratos levantou as
sobrancelhas e lhe lançou um olhar descrente, retribuindo o sorriso.
- Sinto informar que ainda sou
mais forte. E você está amassando todas as roupas...
- Kratos! Você sabe do que
estou falando, não sabe? – empolgado, voltou a rir. – Essa... Essa energia
toda, essa força! É como se fosse adrenalina, mas... É MAIS que adrenalina!
- Bem vindo ao mundo dos
dragões, eu diria... – Kratos também riu. – É pra gastar essa energia toda que
eu e Luke treinamos tanto. Experimenta ficar no tédio, sem fazer nada... Quando
você sentir o que é energia acumulada, vai me pedir perdão por ter reclamado
tanto das vezes em que fiquei mal humorado e agressivo.
- Vou ter que começar a
treinar também, então? – a ideia o animava.
- Provavelmente, mas... Sabe
qual o outro modo de se gastar energia?
- Qual? – essa foi uma das
poucas vezes em toda a sua vida que Yuudai fez uma pergunta ingênua, por não
ter entendido o sentido por trás das palavras.
Agilmente invertendo as
posições, Kratos ficou por cima de Yuudai e segurou suas mãos.
- Ah, sim... – Yuudai disse.
Com algum esforço, conseguiu
soltar uma das mãos e a usou para puxar a cabeça de Kratos para mais perto da
sua, de uma forma um tanto bruta.
*
- Onde eles estão?! – Nana exclamou,
levantando da cama e olhando impacientemente pela janela do quarto, uma das que
dava vista para a frente da casa.
- Sei lá, Nana! Ainda devem
estar pegando coisas no apartamento... Pra que o estresse? Aquela sua
premonição já aconteceu, você devia relaxar agora... – Luke mudou o canal da
televisão, deitado na cama.
- Desculpa se não consigo
ficar como você, simplesmente deitado na cama assistindo televisão pelado e
comendo fandangos, enquanto meu irmão que quase foi morto está começando a
demorar a voltar pra casa... – suspirou.
- Ei, não reclame... Estou
pelado por sua causa. – jogou um dos salgadinhos em Nana, acertando o cabelo
rosa. – E você também tá.
- Não estou reclamando... –
ela disse com um sorriso, tirando o salgadinho do cabelo e o comendo em
seguida. – Mas sei lá, fico preocupada.
- Ele agora é um dragão
também... Relaxa.
- Pode até ser, mas ainda não
sabe usar a própria força. – voltou à cama e sentou ao lado de Luke, que a
puxou para um abraço de lado.
- A gente vai treinar ele.
Vamos descobrir qual o estilo do Yuu, e fazer ele ficar foda. Só acho bom que o
negócio dele não seja manipular fogo também...
- Já está com ciúmes do seu
querido fogo? Medo do Yuudai ser um controlador de fogo melhor que você? – ela
riu, provocando-o.
- Claro que não, porque isso
seria impossível. – levantando uma das mãos em frente aos dois, Luke estalou os
dedos e criou ali uma pequena chama que parecia sair de seu dedo indicador.
- Que perigo, hein? – ela
zombou.
Luke abaixou a mão e a chama
não saiu do lugar, flutuando no ar. Não tirou os olhos dela, e sem precisar
tocá-la novamente, a manipulou mentalmente para que crescesse. Em poucos
segundos, algo como uma grande bola de fogo estava em frente a eles,
perigosamente pairando próxima ao teto de madeira.
- Luke, quer botar fogo na
casa?! – Nana disse assustada. E com um sorriso convencido, Luke tocou naquele
fogo e o absorveu para dentro de si.
- Só queria te mostrar que
agora consigo controlar isso sem precisar tocar no fogo.
- Tudo bem, Luke... Nunca mais
vou duvidar do seu poder de controlar fogo. – se deu por vencida. – Mas não
faça dentro de casa, ok?
*
- Eles voltaraaaaam! – Marie
gritou, correndo pela casa.
- Ah, finalmente. – Cain correu
atrás de Marie, a pegando no colo. A experiência lhe dizia que era melhor
impedir Marie de correr descontroladamente pela casa, pois acidentes sempre
aconteciam. E esses acidentes eram o motivo de Louis estar quase sempre com
band-aids e manchas roxas pelo corpo, pois era sempre nele que Marie acabava
trombando.
- Vou ajudar a levar umas
malas pro quarto de hóspedes! – Hell disse, indo até o carro estacionado em
frente à casa, e sendo seguida por Luke e Nana.
- Não precisa! – Yuudai tentou
gritar para eles, mas foram mais rápidos e já estavam abrindo a mala do carro.
- Agora não é mais quarto de
hóspedes! – Spike comentou, entrando em cena com Louis ao lado. – É quarto do
Kratos e do Yuudai.
- Vocês brigaram de novo?! –
Louis exclamou, parecendo assustado e desapontado.
Só então Cain, Spike, Marie e
Merlot (que havia acabado de entrar) prestaram atenção no estado dos dois. Além
das roupas estarem amassadas, era possível ver em seus braços e pescoços
algumas marcas vermelhas e arroxeadas que indicavam arranhões, cortes e
contusões.
- Erm... Não, não brigamos! –
Yuudai disse, sorrindo sem graça.
- Mas vocês... – Louis começou
a falar, até ser rapidamente interrompido por Spike.
- Se ele não disse que não
teve briga, então não teve! – empurrou o ombro de Louis. – Não vamos ser
inúteis, vem comigo pegar alguma mala também pra levar pro quarto. – e puxou o
loiro pelo braço, saindo dali e indo para onde Hell, Luke e Nana estavam.
- Depois eu digo que a
mentalidade do Louis é ainda mais infantil que a da Marie, e vocês dizem que eu
exagero. – Merlot disse, revirando os olhos. – AI! – gritou quando Marie, que
ainda estava sendo segurada por Cain, deu um chute em sua cabeça.
- Bem, vamos entrar logo... O
jantar já está pronto e podemos ir
arrumando a mesa. – Cain disse tranquilamente, sorrindo. Colocando Marie no
chão novamente, foi até a cozinha, sendo seguido pelos outros.